Qual é a graça?

Os sorrisos estão por toda parte. Resta saber se são de nós ou para nós.
Estou falando dos panfletos, outdoors, cartazes de campanha entre outros artifícios de propagandas espalhados pela cidade. Todos muito risonhos.
Minha curiosidade em olhar para essas fotos, se fixa na tentativa de adivinhar o que se passava na cabeça do candidato no momento do “click”. Confesso que meus pensamentos, alguns engraçados, - mas que o respeito a vocês e a minha vergonha não me permite listá-los - não são dos mais otimistas.
Vende-se ali a imagem de um rótulo, um produto que precisa passar alegria, a idéia de que eles chegaram para acabar com todos os problemas.
Heróis da imagem, vilões dos nossos sonhos e mestres da ilusão.
Ouvi dizer que os homens devem ser entendidos como os livros. Muitos com capas, títulos magníficos e convidativos; porem há de serem analisados os conteúdos.
Em seu interior contém as verdadeiras informações e só os lendo saberemos se este se trata de realidades ou se é igual a outros tantos já escritos, lidos e relidos por nós. Aqueles recheados de fabulas e fantasias sem graça, onde nós somos os coadjuvantes do reino comandado pelos vilões a espera do mocinho salvador chegar e transformar àquele reino besta e cheio de maldades em uma paisagem florida e de pessoas satisfeitas como são as ultimas paginas.
Domingo iremos juntos a “biblioteca”, e la poderemos escolher novos ou novos velhos livros, e em breve saberemos qual é o motivo daquelas risadas misteriosas.
Boa escolha a todos!!!
Sandro Braga.

Ao Mestre com carinho.

Foi-se o tempo em que chamávamos o mestre de mestre. Mestre mesmo, daqueles com letra maiúscula e boca cheia, sem deboche. Foi-se junto o tempo onde existia um amor, uma relação de entrega entre aluno e professor. Essa relação era quase um casamento, o professor acompanhava o crescimento do aluno independente se esse continuasse sendo de sua classe. Participava os acontecimentos da escola à família do aluno no breve encontro na hora da saída. E o aluno, por sua vez jamais se esquecia das coisas que aprendera com professor. Aquele professor inesquecível, que lhe ensinou muito mais do que estava nos livros, aquele que era a extensão da educação de sua casa.
A banalização da educação passou por livros mal cuidados, formato de ensino ultrapassado, má formação dos professores, estruturas precárias entre outros desleixos que valeria a pena enumerá-los aqui, um por um, porém, confesso com tristeza que certamente esqueceria muitos entre os tantos a listar. Até que enfim chagamos a perder o que era pra ser a base e a finalidade de tudo, sobretudo para o mestre. A educação.
Sim, a educação, que por muitas vezes achamos que é o mínimo que as pessoas deveriam ter com as outras. É a mesma que – não é de hoje - ouvimos dizer ser a máxima prioridade e que não vemos sequer a dignidade dos que falam.
Não cabe aqui dizer que educação vem de casa, ou que os tempos são outros ou ainda que isso é tarefa dos “Fulanos de tal”. Sabemos juntos que as coisas já não andam como deveriam, sabemos a quem de direito devemos cobrar, sabemos até como deveria ser feito. O prestigio salarial já não existe faz tempo, mas muitos, senão a maioria, ainda se confortam com o titulo de mestre e o respeito de ser professor.
O resultado é o que vivemos hoje, aquele casamento já não existe mais, o amor acabou, o professor inesquecível já não esta mais na sala. O desgaste dessa relação sem estrutura, sem respeito, sem conhecimento atingiu o limite do absurdo e beira a raiva. E ao mestre, que todas as sortes de recursos lhes foram roubados, inclusive a graça de ser Mestre, nos resta desejar que lhes permitam ainda o sentimento de carinho.

Dedicado à Prof. Valéria Tostes
Sandro Braga.

Vila dos Sentimentos

Palavra tão difícil de se falar quanto de se encontrar outro sentimento tal que se compare a essa maldade dos Deuses.
Em qual dia Eles estiveram tão vingativos pra inventar tamanha besteira?
Qual terá sido o nosso erro pra despertar tanta fúria?
É quase que um fardo inevitável do qual nenhum mortal esta livre, é uma terrível e cruel maldição por Eles enviada.
A Saudade é maldade, dor que acompanha até as pessoas mais felizes. Ninguém está a salvo dela, ela é irmã da Solidão, filha da Distancia. “Eta família sem graça!”
Bom mesmo é curtir a família vizinha, terreno onde mora a Paciência, a Esperança e a Fé, que habitam bem em frente àquela família besta, mas não se abatem com o ambiente criado por eles.
Nessa vila, vale conhecer tudo e todos, porém, tome muito cuidado com as amizades que irá fazer, pois os membros daquela família amaldiçoada têm a mania de se disfarçarem do verdadeiro dono da vila. Aquele que não muda com a presença da Distancia, pelo contrario, se agiganta quando ela chega. Aquele que jamais se sente só, mesmo porque sua forca lhe da tanta segurança que Ele por si só se basta. Ele que consegue ouvir a todos, pois é tão sábio que ao contrario da Saudade atende e é conhecido em qualquer língua.
Pra quem não o conhece, se em algum dia passar pela vila, procure por Ele! Este atende pelo nome de Amor. Caso encontre alguém daquela família tentando se passar por Ele, não se preocupe, tenha paciência, esperança e fé que certamente irá encontrá-lo. Pois o Amor de verdade não pode ser fingido nem copiado, o Amor de verdade é tão bom que entende até a Saudade.

Sandro Braga.

Do forró ao trance!

Foi ao som de bate estacas que me veio o tema de hoje. Lógico que meu humor não poderia estar dos melhores, mesmo porque em situações como esta de ninguém estaria.
O que me fez pensar justamente nas irritações do dia a dia, neste grande fenômeno que transforma tudo de belo, prazeroso, um imenso céu azul em trevas profundas em questão de segundos. Um estalo que faz um monge se tornar o mais perigoso humano que a Terra já conhecera.
A irritação aproxima a humanidade, nos tornam iguais. Ao descer do meu apartamento hoje, encontrei a simpática senhora do 104 com testa franzida, reclamando até de sorvete gelado como eu jamais a tinha visto.
Uma obra iniciada de manha, ao lado do seu quarto te irrita da mesma forma que irritaria Bill Gates. Neste exato momento somos todos iguais.
Moro em um lugar com grande numero de adolescentes, daqueles que ouvem musicas eletrônicas nas alturas, freqüentam aquelas festas onde a batida das musicas se aproximam do som das obras ao lado do meu quarto. Nos fundos, uma comunidade onde grande parte dos moradores são nordestinos, nada contra, muito pelo contrario, eu adoro forró. Mas nem preciso dizer ao som de que eu sou “ninado” todas as noites.
Resumindo, em busca de sossego me mudei pro inferno e não sabia.
O que me deu conforto nessa historia toda – pelo menos - foi a diversão de ver tia do 104 raivosa, deixando a habitual calma de lado e saber que por um segundo eu pude me comparar a Bill Gates.

Sandro Braga.

"Cada um no seu quadrado!" (edição especial - "Cometas são assim")

Para realizar uma viagem, meios de transporte não nos faltam. Avião, carro, navio, entre outros. Todos nos levarão ao mesmo destino, uns com mais conforto, outros com maior velocidade, mas a meta é a mesma.
Religião pra mim é isso, um meio, algo que nos acompanha durante a busca da felicidade. Objetivo comum a todas as religiões.
Em alguns casos, a felicidade é substituída por outros nomes, pessoas, santos, imagens; porém, o sentido continua sendo a tal felicidade plena. Utopia em minha opinião.
Essa variação de modo, de busca, de compreensão de felicidade, de escolha de um caminho, se dá muito mais por aspectos culturais do que muitas vezes pela própria fé.
Perguntaram-me esta semana o porquê de a maioria das pessoas –muitas vezes adeptas das mais fervorosas religiões – embora não atinjam o objetivo da felicidade, ainda assim outras continuem buscando o mesmo caminho. Respondi dizendo acreditar que grande parte dessa felicidade almejada, deve estar justamente na própria busca. Tornar essa busca prazerosa, confortável, traz sentido, carinho, companhias a uma cruzada solitária.
O que resta disso tudo é o que já sabemos como um ideal. Respeitar o transporte dos outros – sem deboche, mesmo porque o seu pode ser um fusquinha na visão do outro -, entender que brigar pela afirmação do melhor caminho só nos faz perder tempo e combustível.
O legal mesmo é ficar “cada um no seu quadrado”, curtir a sua viagem como bem entender e se nossos transportes não falharem no meio do caminho, nos encontraremos no “Terminal” chamado Felicidade.

Cometas são assim.

Cometas são assim, raros e passam rápido. Há quem faça pedidos, – muito mais para criar uma relação de expectativa do que pela crença de que o desejo será realizado de fato – há quem fale de previsões catastróficas ou de mudanças milagrosas; porém não há quem não se encante. É impossível que um cometa possa passar despercebido com toda aquela luz, parecendo mágica, um brilho que por um instante – breve instante - nos enche de alegria e nos aproxima de algo muito mais grandioso do que nossa compreensão é capaz sintetizar.
Cometas são assim, raros e passam rápido, talvez por isso mesmo que sejam tão inesquecíveis.

Sandro Braga.

Homenagem à Mariana Reis.