Estrada

Caminhar em frente sim. Alguns dizem que devemos seguir sem olhar para o que passou. Eu discordo.

Busco fixar todos os momentos – bons e ruins – em minha memória e os deixo em um lugar de fácil acesso na minha vida. Vez ou outra, volto as atenções ao passado e revejo com carinho todos os acertos e fracasso, os quais gosto de chamar de ensinamentos.

Esse papo de bobo - piegas até -, que encontramos com facilidade na boca de medrosos e covardes que dizem não se arrependerem de nada na vida e que se fosse possível voltar ao passado, fariam tudo da mesma forma. Conversa.

Sejamos honestos: Eu me arrependo de muita coisa - de tudo talvez – e se fosse possível, faria praticamente tudo diferente.

Dessa forma, faço questão de que as realizações e decepções ocupem o mesmo espaço na minha “gavetinha mental”. Gosto de perceber o quanto elas se confundem.

Como em uma estrada sigo dirigindo a minha vida como se fosse um daqueles enormes caminhões, com espaço de armazenagem suficiente para todas as historias que escrevi, imagens e momentos que ainda estão por vir. Entendo que os erros e borrões da minha história são como sujeiras das estradas.

Sigo sabendo sempre que o foco esta no caminho que estar por vir e quando possível – e necessário - olho no espelho para admirar o que já andei e as trilhas que conquistei. Quanto as sujeiras da estrada, dou a atenção devida somente às poeiras que me interessam.

Assim, espero concluir minha vida sabendo que os problemas e decepções da estrada, possuíram o tamanho e a demissão da importância que dei a elas.

Sandro Braga

Gramática do Amor

Confesso que sou apaixonado por historias. Sobretudo as de amor.

É verdade que não há idioma especifico para um sentimento tão nobre. Há quem diga até que a língua dele seria o silencio.

Pois bem, e se tivéssemos que escrever sobre toda a nossa historia de amor. Sem faltar nada, sem nenhum detalhe deixado de lado.

A qual gramática deveríamos recorrer?

Para que ela fosse bem compreendida, seria necessário detalhar sensações, lugares, sorrisos, olhares e até os aromas deveriam ser descritos com clareza.

Para isso, usaríamos as famosas – porém não tão usadas - pontuações gramaticais.

Uma boa historia de amor começa com dois pontos – ou duas pessoas - que nos explica cada um das personagens. Em seguida são necessárias as interrogações. Várias delas devem ser largadas soltas logo no começo em tom de mistério a fim de serem desvendadas.

É com o surgimento delas que se inicia a fase mais brilhante do amor. A famosa fase da descoberta.

Buscamos entender, conhecer e nos identificar com nosso amor a cada questão – sorriso, palavras, contos... – decifrada com o nosso olhar de paixão.

É bem verdade que romance nenhum vive apenas de encantos. Para isso existem as vírgulas.

Como dizia minha “tia” na classe de alfabetização. É no momento em que ela aparece no texto que nós respiramos, tomamos fôlego para continuar a historia.

Com o amor e assim também. As brigas, discussões, desentendimentos, são como as vírgulas na nossa historia. Sem elas, tudo se chega ao temível ponto final.

Com o ar renovado, segue a historia com exclamações de amor e paixão até chegarmos ao ponto e vírgula. Momento em que não se respira tanto, mas também não deixa nada se transformar em uma pausa total.

Na nossa historia, neste momento os dois pontos ( um em cima outro embaixo) explicados no inicio, são postos lado a lado.

Como sabemos bem, não há o menor significado para dois pontos lado a lado. Não representarão nada de tão grandioso até que a Vida – “Mestra Gramatical” da nossa historia -, no auge de toda sua sabedoria, rabisque com cores de magia outro ponto. O terceiro ponto que dará a nossa historia as reticências que indicarão a função de que algo – a nossa história de amor - jamais terá fim.

Sandro Braga.

A Eternidade

Dizem que nada é pra sempre. Eu sou!

Ser pai é uma sensação sempre complexa de ser descrita. Há quem tente explicar esses sentimentos mágicos falando das lagrimas que aparecem lavando o rosto de orgulho, outros preferem falar das gargalhadas que chegam confundindo as emoções. Alguns liberam lagrimas e sorrisos ao mesmo tempo mostrando o quanto será divertido e surpreendente essa nova fase de amor e responsabilidade. Fase que aprenderemos a caminhar sem os pés no chão.

Mas há ainda uma sensação - de “egoísmo branco”, se é que isso existe -, que hoje entendo como confirmação da eternidade.

Um filho é muito mais que o “nosso sangue”.

Ele eternizará nossos ensinamentos, histórias, cultura e levará à diante as tradições – ainda que as mais descabidas - que nossa família cuidou com carinho sem saber exatamente o motivo.

Nossas manias, expressões faciais, humores, entre outras coisas que em bem pouco tempo serão identificáveis a olho nú em nossa “cria”.

Eis a certeza do eterno.

Eis a certeza de que nossa vida segue. Sem a nossa participação direta e nem mesma a nossa presença.

Talvez deva ser isso que chamam de alma. Pois isto sim é pra sempre!

Sandro Braga