A Vida me disse

Andei conversando com a Vida.
Ela me contou algumas historias e fez também algumas confissões. Reclamações, eu diria.
Disse-me que anda cansada de viver.
Confessou que Ela e o Tempo nunca se deram bem, mas que aprenderam a respeitar-se e – para minha surpresa – revelou que assim como eu tenho planos para os dois, os dois também possuem planos ultrassecretos para mim.
Disse-me ainda que não aguenta mais os sonhos e as expectativas que andam aprontando pra ela.
Percebi que Ela – a Vida - estava fora de si e achei melhor deixá-la desabafar. E Ela continuou dizendo que às vezes a tratamos como uma mercadoria e por isso dizemos que ela é difícil, que alguns a chamam de saúde e que outros dizem Ela ser um milagre.
Disse-me assim: “… e vocês vivem o meu nome com a necessidade de tentar dar sentido a mim ou as minhas ações enquanto na maioria das vezes o que eu quero mesmo é não fazer sentido algum. Será que não percebem a graça das minhas vontades?” Esbravejou com razão.
Passamos algumas horas “conversando”.
Ela se abrindo, eu me guardando; Ela vivendo e eu observando; Ela chorando, eu aprendendo.
E assim, acabei percebendo e entendendo de uma vez por todas o motivo pelo qual nossa relação sempre foi baseada em sensações desincronizadas.
Lembrei-me que depois de momentos tristes que passei com Ela, sempre a encontrei sorrindo e me vi reclamando. Brincadeira boba, hein?!?!
“Varamos” a madrugada e de tanto Ela falar, acabei me perdendo nos meus pensamentos e quando percebi que Ela continuava falando, retomei a atenção e ouvi:
"...afinal, eu sempre estive aqui com você, pronta pra te explicar as coisas. Aberta pra você me entender. Por que nos nunca paramos para conversar assim? Por que tanto tempo... o que você quer de mim?"
Concluiu Ela o nosso papo assim, deixando as perguntas no ar. Como quem diz: “agora é sua vez… Pode se abrir comigo!”
E depois disso, Ela – a Vida - se calou, como quem espera alguma opinião ou algum desabafo de minha parte.
Eu como estava fiquei. Como sempre.
Calado com os meus pensamentos, planos e sonhos para Ela. Sempre procurei guardá-los comigo – Ela sempre soube disso - e não seria diferente agora. Mesmo por que não acredito que seja boa idéia deixar tudo às claras com Ela. Pois embora Ela tenha me falado tanto de suas amarguras, são eu sei do que Ela gosta realmente.
É melhor guardar.
Afinal a graça toda da vida existir, esta na surpresa que Ela e que nos aprontamos um ao outro durante o nosso súbito momento de convívio. Esta no inesperado.
Eu disse até logo... e voltei a sonhar com Ela.

Sandro Braga.

Sim

É triste não saber o nosso lugar no mundo.
É triste não saber se estamos no nosso lugar.
É triste não encontrar a nossa função.
É triste não saber o que se deve sonhar.
É triste não saber que caminho seguir.
É triste imaginar o futuro sozinho.
É triste deixar a vida nos levar sem comando ou sem a nossa participação direta.
É triste deixar o tempo resolver as coisas.
É triste sim.
Por isso, a tendência natural é seguir caminhos alheios, contrários, relacionar sonhos de outros e identificá-los como nossos. É comum, mas não deixa de ser triste também.
Por medo, agimos dessa forma e acabamos nos projetando e dizendo sim a tudo e a todos para tentar fugir dessas tristezas possíveis.
E de tanto dizer sim para os outros, tentando fugir dessas malditas tristezas, acabamos esquecendo ou ainda não percebendo que algumas vezes em que dizemos sim para estes, significa dizer não a nos mesmos.
Este Sim é comum.
E este sim é triste.

Sandro Braga.

Pensar e Sentir

A frase famosa que diz: “penso, logo existo”, tornou-se vaga, sem graça, sem sentido. Totalmente ultrapassada.
Também pudera, esse pensamento foi colocado há tanto tempo. Um tempo onde se bastava uma gruta, alguns panos ao redor do corpo e palavras estranhas, sem sentido e confusas. Pronto, se tinha uma boa historia.
Hoje, pra quem – assim como eu – quer algo mais, é necessário um complemento nesse pensamento.
Em minha opinião, com todo respeito ao filosofo René Descartes – afinal quem sou eu para contrariar tamanha sabedoria histórica -, a vida é muito prazerosa e não pode ser tão resumida a só isso.
Quero muito mais do que o simples existir, preciso muito mais do que ato de pensar. Eu quero ser feliz, e para isso não me basta esse pensamento de contentamento com o existir. Muitas coisas e pessoas vagam, passam, existem… Poucas vivem.
É preciso sentir também. Sentir para viver… isso sim!
Imagine passar a vida sem sentimentos, sem sensações, sem as experiências que se somam a cada dia e que fazem de uma historia de vida algo interessante, encantador e único para cada um de nos.
Como sempre e de costume, prefiro os sentimentos.
Farei assim:
Deixarei a eternidade do pensamento para o filosofo, e continuarei mantendo o habito de pensar para logo, existir. Como ele imaginou.
Mas como ideal próprio, permito-me imaginar um complemento.
“Penso logo existo… Sinto, logo vivo!”
Esta feito… papo encerrado!!!

Sandro Braga.