Falta você

Há amores que acabam como se nunca tivessem sequer existido.

Outros que terminam com sabores de saudade, com a secura do desejo, o molhado do beijo carregado de vontade.

Há aqueles que se findam com o sentimento de incapaz, com a sensação de que algo mais poderia ser vivido. Há os que morrem fisicamente, mas perduram num pensamento que teima em remoer erros, acertos, dúvidas, dívidas, mentiras e verdades.

Em todos os tipos, habita a semelhança do sofrimento e da ausência. Porém, igualmente, para todos existem saídas – ou fugas.

Às vezes na bebida, outras na abstinência. Ora na religião, ora na consciência. Às vezes na amizade presente, outras no isolamento (sem gente).

Às vezes no vício da ilusão, outras na novidade de uma paixão.

A verdade é que para todos os casos que chegam ao fim existem opções, menos para o nosso; Não para o nosso.

Pois neste caso, em todas as possibilidades apresentadas pelo destino – ou pela tentativa de fuga -, ainda falta você.

E quando você é assim, tão única, o choro, o tempo e a vida podem fazer o sofrimento passar. Mas ainda assim, falta você.

Ah, como falta você!



Sandro Braga

O mar

Assim é o mar: Grande.

Com ondas pequenas – quase marolas – curtas, longas e grandes; há até às gigantes. Ele é escuro e às vezes claro demais; agitado ou sereno. Às vezes quente às vezes frio – congelados; há até os congelantes.
Ora verde, ora azul; imenso ou estreito. Encontrando-se com rios, abraçando os oceanos ou se acabando a cada praia. Ele é mar.

É tudo isso, junto ou separado, mas não deixa de ser mar.

Assim é você: Grande.

Mutável, reinventado a cada dia.
Se tiveres o prazer e a ousadia de se permitir mudar. Ou de opinião ou de atitude, mas mudar acima de tudo. (Serás grande!)

Entendendo que a vida vai se apresentar fria e em outro momento – talvez logo em seguida de toda frieza – calorosa demais. Por vezes a verá bem maior que você – ou de suas capacidades –, e em outras situações ela (a Vida) lhe trará a impressão de que cabe em suas mãos.
Se entenderes que todas as possibilidades de transições e adaptações cabem a você mesmo e que todas elas, por escolha sua, lhe permitem ser tudo sem deixar de ser você.

Pois só és e só poderá ser tudo isso, junto ou separado, se não deixares de ser você mesmo. (Serás grande!)
Dentro de você sem saber exatamente o tamanho e o poder que tem. (Serás grande!)

Agitado ou sereno. Mas sabendo que, da vida, o importante é conhecer que embora as agitações e tempestades apareçam, entre uma lua e outra a maré baixa e a calmaria chega... Ela chega.

E quando ela chegar; Serás grande! (como o mar)

Sandro Braga

Coisas simples

... e ontem percebi – ao me levantar – que dedicar um tempo do meu dia para te esquecer, é uma maneira de lembrar de ti e te manter sempre perto de mim.



E quando você é assim: Insistente, de teimosia incomparável de se fazer presente – sempre em pensamento – acabo por notar a ausência de coisas simples.



Coisas simples como dormir ao fim da tarde e só à noite acordar. Correr e te chamar pra ver o céu ou ainda escrever o nosso nome no mesmo papel. Simples como a troca de olhar, comer yogurte com mel ou ouvir um bom samba de Noel.



Coisas simples como ir à praça cantar, sentir o acorde do menestrel ou no carnaval lembrar de um certo “Trinta” rasgar a fantasia e entregar ao mendigo o chapéu. Simples como ir a Lapa e dançar, como um samba no pé, como o homem e a mulher.



Coisas simples como tentar te encontrar, dentro de um amor que é tão grande como um mar de sonhos que não dá pé.



Mas de tão simples que é, a vida não teve tempo – ou atenção – de me ensinar a ser só. E desde então, sem você, não me basta alguém que enxugue minhas lágrimas. O que preciso – a partir de agora – é de quem tenha a simplicidade de não me fazer chorar. Simples, como é.





Sandro Braga.

Eu

Outro dia me peguei pensando nas divisões absurdas que fazemos de nós mesmos.  Cá entre nós, é um assunto que só no ócio das féria se acha razoável e se encontra tempo para pensar e debater. 
Coisas estúpidas onde buscamos esclarecimentos para as variações que o destino nos apresenta, tentando justificar atitudes inexplicáveis e, por vezes, inimagináveis.
Refleti em divisões tolas, como: Eu filho e eu pai; Eu irmão e eu amigo; Corpo e alma, Bom marido e bom amante. Pensando, por fim cheguei ao maldito e tão falado “Pessoal e Profissional”.
Confesso que já tentei, sem sucesso, me encontrar em todos esses que descrevi acima e em tantos outros mas percebi – sem pressa – que não existem todos estes e nem mesmo apenas um.
Somos na verdade uma transição constante e acredito, sinceramente, que esta é a maior valência do ser humano. A capacidade de mudar.
Mudamos sempre. De amores, de paixões, de partido, de opinião.
Mudamos de casa, de time (eu não), de carro.
Mudamos pois podemos ser tudo, inclusive o nada.
Mas dentro de todo esse universo, o primordial é entender que é impossível dividir-se, e que reconhecer estar bem em um âmbito e realizando algo indevido ou mal feito em outro é, sobretudo, desumano.
Pois respondam: Se – segundo Mahatma Gandhi – “a vida é um todo indivisível”, como posso eu me assumir múltiplo?



Sandro Braga