Mais uma de amor

Pra cada arco um momento, um acontecimento, um sentimento. Passeia-se entre um e outro curtindo a vida, lembrando histórias. Nossa história.
O bonde passa levando o seu povo. Cada um com seus sonhos, suas ilusões.
A lua sempre à mostra.
Pra cada beco um som. A cada bar um grupo. Alegria, risos e mais risos. Beleza a todo instante.
As ruas de pedras e de asfalto se encontram simbolizando o casamento do velho e do novo, do histórico e do moderno, eu diria. Metamorfose constante que nos dá a certeza de que ela não morrerá jamais. Prazeres diversos se confundem nesse caldeirão étnico. Ouve-se de tudo a todo instante: samba, reggae, forró, rock, entre outros ritmos loucos. Estão todos juntos, dividindo o espaço - o mesmo espaço - e respeitando o assunto desconhecido.
Máximo de representatividade da minha cidade. Aqui se aprende o que é o Rio de Janeiro, o carioca, a sua política, suas manias, sua história, seus perigos e seus prazeres. Tudo de uma vez só. Tudo em uma só noite. Noites inesquecíveis, como são todas neste lugar. (Sempre são)
Aqui, garçom vira “chefe”. Mendigos viram parentes próximos. São tratados de “Irmão”, “Tia”, ”Vó” e por ai vai. Aqui convivemos com a realidade nua e crua da desigualdade social. Vemos o resultado do descaso na nossa frente e conversamos com ele.
Eis “O“ lugar. Santuário das transformações.
Aqui a noite vira dia sem que a gente perceba. Entre um gole e outro o estranho termina a noite como seu melhor amigo.
Assim é o meu lugar. Assim é a minha casa.

...á Lapa... Com amor,

Sandro Braga.

A Volta do Malandro

“Eis o malandro na praça outra vez, caminhando na ponta dos pés, como quem pisa nos corações...”
É galera, ele – “o malandro” – está de volta. Mas dessa vez ele não veio na ponta dos pés, mas pelo andar da carruagem pisará novamente – com o nosso consentimento – em nossos corações.
Nesta semana, recebemos a grande noticia do novo presidente da comissão de infra-estrutura do senado. Eu jurava que depois da noticia ia entrar aquele rapaz alegre dizendo: “Pegadinha!!!” Fiquei procurando, tentando achar as câmeras escondidas, esperando alguém chegar para dizer a verdade, ou ainda alguem que dissesse que era tudo uma grande brincadeira. Esperei, esperei e nada.
Na Quinta -feira, dentro de sala de aula, fui pego de surpresa ao comentar sobre o acontecimento da semana relembrando – sem sucesso - a história do "impeachment" com os meus alunos. Surpresa dupla na verdade.
A primeira triste surpresa, foi saber que de fato estou mesmo ficando velho. Eu fui um “cara pintada”, ainda criança fui as ruas e gritava: “fora...fora...”, e achava fantástica, difícil e interessante aquela nova palavra – ainda que não soubesse exatamente o que ela significava – que era repetida constantemente na TV e nos outros seguimentos de informação.
A segunda grande surpresa – tão triste quanto à primeira - foi saber que a maioria dos alunos – entre 16 e 18 anos de idade – não conheciam o “dito cujo”, nem sequer a história, menos ainda o que quer dizer impeachment.
Pára tudo. Vamos calcular que o caso é grave.
O “lance” aconteceu entre 1990 e 1992 – a 19 anos -, a maioria dos eleitores são adolescentes, com 16 anos já se pode voltar, nosso regimento entende que nesta idade já se tem responsabilidade para decidir o “futuro do país”, porém, eles não tem responsabilidade para responder pelos seus erros, para guiar um veiculo. (?)
Vamos continuar a conta. Se são eles que votam, que decidem, e que não conhecem a história. O “barão da ralé” foi malandro novamente. Deixou balançar a maré, a poeira assentar no chão e quando a praça virou um salão... Olha ele ai novamente!
É isso ai amigos. Viva o desconhecimento!!!
Continuem “odiando política”, fugindo do assunto, achando tudo isso “muito chato”, sem graça e desinteressante. No final, nós, juntos, veremos onde iremos chegar - NOVAMENTE -. Nas mãos do “malandro”.

Sandro Braga.

A Volta do Malandro
Chico Buarque

Composição: Chico Buarque 1985

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram nos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé

É simples assim.

Existe uma frase que diz: “Vida longa aos meus inimigos, para que eles aplaudam de pé a minha vitória”. Frase egoísta, vingativa e verdadeira.
Nós temos sim sentimentos vingativos, sentimentos que nós mesmos classificamos como “feios”.
A questão esta em ter a necessidade de separar mocinhos e vilões. Lógico, em nossa história de vida, seremos sempre os mocinhos, ainda que tenhamos atitudes e objetivos idênticos aqueles que dos nossos “inimigos”.
É simples assim: Substituímos as palavras, traduzimos e inventamos outros meios de camuflar nossas fraquezas. No lugar da gula, falamos que “estamos com uma vontade de comer alguma coisa que não sabemos o que é...”, chamamos a ambição de sonhos, a ganância de inocentes desejos de infância e a tão falada inveja, tratamos como busca do “nosso” espaço e por ai vai.
Voltando àquela frase do inicio do assunto, vivemos na busca de ter uma vida vitoriosa sim, vivemos para orgulhar nossa família sim, e vivemos também para triunfar em mares de maré contraria. Precisamos disso, precisamos mostrar aos outros – que possuem os mesmos desejos que nós – que independente da tempestade, sempre chegaremos em um porto seguro.
Coisas difíceis de entender. Adoramos ver nossas próprias fraquezas nos outros. Isso é real, é humano, é tolo e é normal.
É simples assim: Somos humanos, incoerentes, incomparáveis. E diante de toda essa imperfeição, constituímos a coisa mais brilhante e magnífica de todo universo.

Sandro Braga.