Falemos de Amizade

A amizade, por ser sincera, sempre é recompensada. Porém, aquele que entende que uma amizade necessariamente deve ser recompensada, já não me parece muito sincero.
Certas coisas acontecem do nada, e a amizade é uma delas.
A Amizade tem vontade própria, pois só ela nos permite - de forma inexplicável - conviver e amar pessoas que muitas vezes possuem características que odiamos em outras ou em nós mesmos. Essas pessoas nos ensinam – dentre tantas outras coisas – que para amar não se precisa de motivo e que esse papo de amar somente a quem nos ama, entender e respeitar apenas os que nos retribuem da mesma forma, como disse no inicio, não é sincero e muito menos honesto. Ensinam também que – embora sempre prazeroso – amigos não precisam estar todos os dias ao nosso lado. Basta-nos saber que existem para amá-los.
O poeta e grande amigo Filipe Couto diz em “Sobre Pureza”, um dos seus sensacionais poemas no livro “Breves cantares de nós dois”, o seguinte:


“Será que é preciso
que tudo na vida tenha
um sentido ( um objetivo, uma razão)?
Será que uma cor só é cor
nas asas de uma borboleta
Será que o perfume só é perfume
na flor mais bonita da estação?
... “.


E por aí vai. Perfeito. Como sempre.
As cores e os perfumes se eternizam junto com os misteriosos poderes que a amizade nos traz. Passamos a entender o pensamento dos amigos no olhar, percebemos as intenções pela escolha da roupa, detectamos o humor do dia pela voz, e com isso ganhamos momentos, imagens, sentimentos, brincadeiras internas que só nós entendemos, sorrisos... Muitos sorrisos (combustível da amizade).
Existem alguns que classificam as amizades. Diferem os colegas, os de infância, os conhecidos, o melhor, o mais chegado, o “de vista”... Quanta bobagem!
É a amizade quem nos escolhe e nos classifica como eternos, meus amigos. É ela quem decide o momento certo para unir histórias e marcar vidas.
Amizade é sincera. Pois, se assim não for, não é.
Deixemos os rótulos de lado e falemos apenas de amizade. Combinado?

Dedicado ao Eduardo Valadares

Sandro Braga.

Palavras do Coração

Aí vai a dica:
Nesses dias de solidão, deixo todos os sentimentos guardados num canto e me apego a pensamentos soltos, sem compromisso, chamo as palavras para conversar e empresto a caneta (ou o teclado) para o meu coração escrever o que bem entender. Depois largo as palavras aqui, combinadas – nem sempre de forma lógica - para que vocês possam compartilhar comigo esses dias complicados, mas sempre especiais e renovadores na minha vida.
Explico. O que chamo de “palavras do coração” me mostra a mágica de escrever e me permite sentir sem ser. Posso escrever sobre felicidades, amores, sobre a vida, sem necessariamente passar por essas experiências. A mim, basta observar e convidar as palavras. O resto flui.
Muitas vezes me perco na busca do entender e ando em círculos até cair nas conclusões que invariavelmente definem o que sou e o que penso. Por isso, respondendo a alguns que já me perguntaram o motivo dos textos ou do blog, respondo explicando que no final de cada texto consigo me conhecer cada vez mais. Recomendo a todos.
Os medos e fraquezas se eternizam nas combinações mágicas de cada frase e acabo me encontrando em cada trecho. Assusto-me – sempre – por ter a impressão de que o coração como suas palavras soltas ganham espaço, forma e falam diretamente comigo. Alertando–me, definindo-me e muitas vezes brigando de forma veemente.
Para mim, isso é escrever.
Uma grande paixão que me descobre e me resume a cada prosa.

Sandro Braga.

Brechó

Até bem pouco tempo, jamais tinha entrado em um brechó. Achava eu – de forma equivocada, percebo agora – que o que se encontrava naqueles lugares incomuns, com aparência gasta, geralmente com roupas e apetrechos desordenados e amontoados logo na porta, seria nada mais do que as mesmas coisas que encontro facilmente no fundo das gavetas do meu armário, no quarto de guardados lá de casa – o qual eu não arrumo há anos - , ou ainda naquele lugarzinho esquecido em cima do armário.
Acreditava ser um lugar de coisas velhas, objetos dos quais o tempo já se encarregara de depositar no ostracismo.
Pois bem, esta semana, em busca de coisas novas – vá entender... – com um tom de ironia guardado no peito e um sorriso debochado, cheio de preconceitos, escondido no canto da boca, tomei coragem e entrei em um brechó pertinho de casa. De cara, percebi alguns livros de capas desgastadas, páginas amareladas e logo concluí, com preconceito já esperado: “... livros antigos... assuntos mais antigos ainda!”. Continuei passeando pela loja pensando: “... Roupas aqui? Nem pensar!”
Surpresa!
Para resumir, saí de lá com duas sacolas de roupas – a maioria para presentes – apetrechos de decoração, e alguns bons livros, que agora eu prefiro classificar como Clássicos Históricos.
Porém, além das belas aquisições, o que trouxe de mais valioso daquela lojinha largada nos fundos, pra lá da esquina, foi a experiência e o aprendizado de que tudo, absolutamente tudo, quando utilizado com bom gosto, sem preconceitos, atitude e boa vontade, tem seu lugar no tempo. Quanto a esse papo de velho e de novo, ele só serve para limitar nossas bestas convicções de entendimento em relação ao tempo. O que separa o novo do velho é o ato de conhecer.
Já leram “O Príncipe” de Machiavelli? Ele escreveu há mais de 100 anos.
Não leram?
Então é novo pra vocês.
Enfim. Novo é tudo aquilo que não conhecemos!

Sandro Braga.

Poder

“Força é governar o outro, poder é governar a si mesmo.”.
Uma máxima fantástica que - só pra não perder o hábito de pensar - me fez parar e refletir sobre o assunto. Ano de eleição chegando gente... Acho que vale começar a conversar sobre isso.
Cansamos de ver políticos, representantes de governo, chefes de empresas, ou qualquer pessoa que exerça um cargo de liderança iniciando a carreira, buscando ter o comando, para não serem mais “explorados”, para fazerem a diferença, e por fim, acabam se tornando exatamente aquela figura contra a qual lutava antes da ascensão.
Isso traz à tona algumas questões importantes para que não sejamos injustos em nossos julgamentos. A primeira é se existe a real possibilidade de mudança. É muito fácil pregar transformações milagrosas quando a “varinha mágica” não está em nossas mãos. Outra questão é se existe também o interesse em mudar o que já vem sendo feito, não só por quem assume o poder, bem como por quem já está no governo ou no antigo posto de comando.
Ideias de mudanças são sempre necessárias e sempre bem-vindas. Rever conceitos antigos, se reconstruir, tudo isso é ótimo.
Mas é igualmente importante – se não mais – saber em quê, de qual forma e, principalmente, para que mudar.
Transformar sim. Mas transformar em quê?
Sem percepção e planejamento, ficaremos perdidos e continuaremos nas mãos da força, esperando que a mágica de alguém atenda aos nossos desejos.

Sandro Braga.