O ultimo suspiro!

Era uma vez um homem estranho, atendia por "Zé sem Nome". Sem passado e sem destino, pouco se sabia dele e ele mesmo fazia questão de não se relacionar e nem dizer nada a ninguem. Vivia em constante viagem interna. Sua casa era isolada de tudo e de todos.Tirava o seu sustento do que plantava em seu quintal.
As vezes, uma carta ou outra chegava avisando a morte de algum parente distante. Não pensava em futuro, não tinha sonhos nem ambições.
Passava sempre despercebido pelas ruas. Praticamente ninguem sabia o seu nome - o que não era problema - ja que ninguem tinha razão para chamá-lo.
Não tinha telefone, pois não tinha pra quem ligar e como ja é de se imaginar, ninguem ligava pra ele. Jamais tivera relógio e por mesmo tinha a exata noção da importancia de cada instante.
Fotos nem pensar. Era um homem sem memória, sem lembraças. Se alguem quisesse saber da vida dele, que seguisse sua viagem.
Nada de carro, nunca teve bicicleta e por isso mesmo nunca se acidentara. Não tinha e nem pensava em ter nenhum tipo de transporte particular. As próprias pernas o bastavam, pois sabia que não iria tão longe.
Era um homem de poucas amizades. Acordava cedo e sempre no mesmo horário, dava bom dia ao sol e agradecia - mesmo sem saber exatamente o motivo - a Deus todos os dias.
Eis que um dia chega em sua casa uma daquelas cartas - como sempre - avisando a morte de outro parente distante. Desta vez lhe informava que havia recebido uma herança milionária.
De um instante para o outro, "Zé" passa a ser um dos homens mais ricos e como um truque de mágica trágico e melancólico dara ali o seu ultimo suspiro como o sujeito mais feliz do mundo.
Sandro Braga.

De um dia para o outro!

Busquei desde cedo entender a felicidade. Acreditava ser responsável e maduro o suficiente para cuidar da minha própria vida. Comecei a trabalhar cedo e ainda cedo aprendi a carregar as chaves de casa. Achava isso o máximo. Vivi desde então me entendendo como um homem adulto, com sonhos e com objetivos que acreditava serem concretos e direcionados a uma estabilidade, trilhando o caminho da felicidade que justificava todo o meu esforço diário. Cansado, pensava ao deitar: "O trabalho dignifica o homem!". E por ai seguia entendendo que cada gota de suor derramada durante o dia seria milagrosamente transformada em rios felicidade no meu futuro. Agradecia - como agradeço todos os dias - por ter conhecido a minha mulher. A ela, agradecia pela compreensão e por ter me ensinado o sentido da vida a dois. Por isso, e graças a ela, sempre tive a certeza do que é o amor. Então, de um dia para o outro, um sopro de vida - ainda dentro do ventre -, sem emitir som algum, me explica tudo de uma só vez. Explica-me o que é ser adulto, me exige uma responsabilidade que jamais imaginara antes, me mostra a beleza da vida a três e a importância da vida a dois. Mostra-me o quanto eu devo ser maduro, faz bater em meu coração o amor mais puro e me entrega de bandeja a felicidade que busquei durante esses 30 anos de vida. E hoje me pergunto: "Como eu não percebi isso antes?"

Sandro Braga.

Dedicado,
- meu filho Pietro M. B.
- minha mulher Luana M.

Errando o Troco

Eis uma coisa grave: Errar o troco!
Se erramos pra mais, a firma "quebra". Se for pra menos, o cliente reclama.
O problema é que a moeda é sempre a mesma.
Existe uma empresa que torna isso mais grave do que parece. Essa empresa precisa ser administrada como todas as outras, tem seus custos, seus objetivos, seus direitos assegurados por uma cultura e seus deveres acordados no inicio do contrato.
Essa empresa se chama "relacionamento".
Erramos sim. Somos humanos e esses erros fazem parte de nós.
O problema está exatamente no troco. Erramos porque não entendemos que no relacionamento cada ação não tem apenas uma simples reação. Ela é interpretada, tem uma peso - diferente pra cada um dos "sócios" -, uma sensação, uma imagem guardada e um sentimento eternizado nesse troco inesquecível.
Ao errarmos o troco, estamos despertando e provocando possíveis injustas reações que ainda que não sejam tão reais e nem tão coerentes, farão falta e darão diferença no fechamento do dia.
A vantagem dessa "empresa" é que podemos usar outras moedas para o troco. Ela permite até que voce não o dê. E acreditem, alguns clientes ficarão satisfeitos - pelo menos por um periodo - se você não der.
O sergredo parece estar na moeda. Não precisamos agir como no comercio convencional. Mesmo porque esta empresa nem de longe será convencional.
Usar outra moeda. Não dar o troco, cancelar o contrato e continuar com a dignidade de uma sociedade isenta de qualquer divida externa.
Acho que é por ai!

Sandro Braga.