Crônica Olímpica

Caros amigos, é bem verdade que os jogos olímpicos acendem a chama do esporte dentro de cada um de nós, ainda mais em pessoas como eu, praticantes, amantes e profissionais do esporte. Porém, essa chama de empolgação, de alegria e da manifestação esportiva nos traz muito mais do que apenas o espírito olímpico. Muito mais do que a esperança de paz, da união entre os povos. É preciso que deixemos um pouco esse lado quase que utópico de paz mundial associada ao esporte e olhemos mais para o nosso “próprio umbigo”.

Essa chama acende a luz do bom senso, ou pelo menos deveria ser assim, porém, em alguns casos essa chama é tão forte que faz cegar justamente aqueles que deveriam ser guiados por ela. Aproveitar essa empolgação, curtir os jogos, as vitórias, tudo isso é ótimo. Mas refletir certas injustiças, rever nossas prioridades e entender de uma vez por todas que aproveitar o momento olímpico para incentivar a prática esportiva acreditando e fazendo acreditar que tudo isso nos levará a um futuro próspero no que diz respeito à cultura, aspectos sociais e esportivos não funcionam, também seria ótimo.

Me parece que agindo assim, como vem agindo boa parte de nossa classe, aproveitando o momento para idealizar projetos olímpicos em centros sociais, é tentar “começar do fim”. Levar o esporte para comunidades carentes, ajudando jovens a saírem das ruas entre outras tarefas realizadas nesses projetos é um grande mérito para aqueles que obtêm sucesso, mas aproveitar o “delírio da novidade” nesses centros e relacionar com o mais alto nível de competitividade como são os jogos olímpicos é injusto, cruel e contrário a todas as expectativas sócio-políticas.

Começar do fim é isso, é a contramão, é iniciar um projeto tendo como referência o que grande parte dos ditos “beneficiados” desses projetos jamais alcançarão, e que por muitas vezes essa decepção traz mais uma frustração a esses chamados beneficiados.

Dessas iniciativas podemos considerar positivos aspectos como, ver novos ídolos, sonhar, “brincar de ser”, tudo isso é valido, desde que sejamos honestos com o próximo. Devemos incentivar a prática esportiva sim. Para a formação da criança, visando saúde, socialização, integração, educação, entre outros objetivos já conhecidos por nós, mas sem promessas infundadas de “atletas olímpicos do futuro” associando todas as sortes de benfeitorias com a maior das competições.

Por fim, é importante que deixemos de lado frases prontas e por muitas vezes cruéis, ilusórias, mentirosas como: “... daqui sairão futuros campeões” entre outras já famosas em discursos de inauguração de vilas olímpicas. Que possamos substituí-las por: “... daqui sairão futuros cidadãos” dessa forma, quem sabe um dia vamos poder enfim chamá-los verdadeiramente de beneficiados.

Sandro Braga.

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